Onde está Deus nas tragédias?
O bacharel em filosofia e articulista da Folha Hélio Schwartsman não perdeu a oportunidade de pregar seu ateísmo utilizando como pano de fundo a tragédia no Haiti. Ele sugere que, pelo fato de o terremoto ter ceifado vidas inocentes, incluindo a de crentes, Deus está ausente. No texto "Deus e a terra", ele afirma que "é justamente para combater a ideia de que o acaso (e com ele a ausência de propósito) está no comando que, suspeito, criamos a noção de Deus". O fato é que tragédias existem desde que o pecado entrou no mundo. Na verdade, o pecado é a verdadeira tragédia - o resto é consequência. Lúcifer deu origem a isso e ainda atribui a Deus os resultados de sua rebelião insana. É verdade que inocentes morreram no Haiti, assim como morrem inocentes todos os dias, desde que nossos primeiros pais saíram pelos portões do Éden. É verdade que a boa doutora Zilda Arns morreu numa igreja, mas significa isso que Deus abandonou Sua filha em pleno serviço em prol dos desvalidos?
O apóstolo Paulo foi um dos gigantes da fé. Operou milagres e levou a mensagem de esperança a lugares distantes, sofrendo perseguição, espancamento e prisão em nome de Jesus. Depois de anos de trabalho e dedicação, Deus o enviou para Roma, a fim de que pregasse o evangelho na capital do Império. E foi lá que Paulo morreu decapitado. Deus não poderia tê-lo poupado da morte? Por que o enviou justamente para a cidade em que sua vida seria ceifada? O fato é que Deus não vê a morte como o ser humano a vê - ou melhor, como o ser humano sem Deus a vê. Claro que é triste a perspectiva da separação das pessoas a quem amamos. Mas para aqueles que creem na Palavra de Deus e nas promessas seguras de Jesus, a morte é apenas um sono do qual despertaremos por ocasião da segunda vinda de Cristo. Por isso não precisa haver desespero. Não precisa haver indignação. Precisa, sim, haver confiança irrestrita no amor e cuidado de Deus; de que Ele sempre sabe o que é melhor para nós e quando é melhor. É como escreveu Michael Green: "Fé não é acreditar sem provas, é confiar sem reservas - confiança em um Deus que Se mostrou digno dessa confiança."
Por isso Jó pôde declarar: "Embora Ele me mate, ainda assim esperarei nEle" (Jó 13:15, NVI). É esse o tipo de confiança que têm aqueles que convivem com o Criador e sabem que Ele existe, não porque os livra de todos os males terrestres, mas porque Se revela claramente para eles, fala com eles; é tão real quanto o amor que se sente, mas não pode ser visto nem tocado.
Paulo descansou em Roma. Zilda descansou no Haiti. "'Felizes os mortos que morrem no Senhor de agora em diante.' Diz o Espírito: 'Sim, eles descansarão das suas fadigas, pois as suas obras os seguirão" (Apocalipse 14:13).[MB]
Penso apenas em pessoas como Zilda Arns. O Amor, matéria-prima de Deus, não é uma emoção ou mesmo um sentimento; é um modo de ser. Dona Zilda, em sua vida e em sua morte, é prova inconteste dessa proposição. Sua estatura espiritual e moral recolhe os arrazoados oportunistas e estéreis à sua verdadeira dimensão: a irrelevância.
"Mas será que a discussão em si pertine? Certo que sim, mas não agora. Melhor em outra ocasião. Hoje, diante do horror em Haiti, devemos mais é externar por meio de atos aquilo de que, de fato, somos feitos. Alhures, de volta à normalidade possível, poderemos reencetar a questão filosófica. Nesse caso, devo adiantar que se nos for dado voz, que ao menos possamos escalar o nosso time - coisa que os ateus, tão prestimosos, tão desapegados, adoram fazer por nós. Como Rousseau não merece sequer ser gandula da partida, eu poderia evocar Heinrich Heine e seu comovente ato de fé renegando o virulento ateísmo que até então promovera. Melhor, no entanto, é apelar a Antony Flew, um dos mais cultuados e atuantes filósofos ateus do século 20. Compreendo que seu livro Um Ateu Garante: Deus Existe tenha feito com que os ateus militantes deixassem de lhe reconhecer a existência física, intelectual e moral. Isso não nos surpreende a nós, cristãos: 'Mas a sabedoria é justificada por TODOS os seus filhos' (Lucas 7:35).
(*) Sobre o tal otimismo aventado por Rousseau, nunca, jamais deixarei de citar o escritor católico George Bernanos, que formulou um aforismo feito sob medida para, entre muitos, o autor de O Contrato Social: "O otimismo é uma falsa esperança para uso dos frouxos e imbecis. A verdadeira esperança é uma qualidade, uma determinação heróica da alma. E a mais elevada forma de esperança é o desespero superado."
Extraído da matéria: Onde está Deus nas trajédias (Criacionismo.com)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário